terça-feira, 30 de setembro de 2008

Lula sanciona reforma ortográfica

Novas regras passam a valer a partir de 2009.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta segunda-feira (29) o decreto que estabelece a reforma ortográfica. As mudanças na escrita começam a valer a partir de 1º de janeiro de 2009. A solenidade ocorreu na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.

A reforma da ortografia pretende unificar o registro escrito nos oito países que falam português - Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal.

De 2009 até 31 de dezembro de 2012, ou seja, durante quatro anos, o país terá um período de transição, no qual ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita – a atual e a nova.

Nos livros escolares, a incorporação das mudanças será obrigatória a partir de 2010. Em 2009, podem circular livros tanto na atual quanto na nova ortografia.


Clique no título e veja reportagem completa.

Matéria retirada do site: g1.globo.com de 29/09/2008
Sugerido pela Profª. Clara Dornelles


terça-feira, 23 de setembro de 2008

Slides da Aula de 16/09/2008

RESUMO
Adaptado de: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/producaotextos/resumo_nbr6028.htm, acesso em 15 de setembro de 2008.

  • Resumo: "apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto" (NBR 6028). Uma apresentação sucinta, compacta, dos pontos mais importantes de um texto.
  • Esta definição pode, no entanto, ser melhorada: resumo é uma apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto, ressaltando a progressão e a articulação delas. Nele devem aparecer as principais idéias do autor do texto.
  • O resumo abrevia o tempo dos pesquisadores; difunde informações de tal modo que pode influenciar e estimular a consulta do texto completo.


Em geral, o resumo:

  • indica o assunto do texto;
  • o objetivo do texto;
  • a articulação das idéias;
  • as conclusões do autor da obra;
  • é redigido em linguagem objetiva;
  • não apresenta juízo crítico (as vozes);
  • é inteligível por si mesmo (isto é, dispensa a consulta ao original);
  • evita a repetição de frases inteiras do original;
  • respeita a ordem em que as idéias ou fatos são apresentados no texto original.


Exemplo de resumo

ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 284 p.

Rocco (1981) examina 1.500 redações de candidatos a vestibulares (1978), obtidas da FUVEST. O livro resultou de uma tese de doutoramento apresentada à USP em maio de 1981. Objetiva caracterizar a linguagem escrita dos vestibulandos… A autora escolheu redações de vestibulandos pela oportunidade de obtenção de um corpus homogêneo. Sua hipótese inicial é… Entre os problemas identificados pela autora ressaltam-se… Também foram objeto de análise… Rocco se preocupa ainda com… Chegou à conclusão de que…

  • A elaboração de resumos exige habilidade de leitura.
  • Não cabem no resumo comentários ou julgamentos apreciativos.
  • A dificuldade de resumir um texto pode advir da complexidade do texto (vocabulário, estrutura sintática, relações lógicas), bem como da competência do leitor.
  • Para reduzir as dificuldades de elaboração de resumos, recomenda-se ler o texto do começo ao fim, sem interrupções.

- Nesta fase inicial, responde-se à questão: de que trata o texto?

- Na segunda leitura, decodificam-se frases complexas, recorre-se ao dicionário para solução do vocabulário.

- Em terceiro lugar, segmenta-se o texto, dividindo-o em blocos temáticos, de idéias (ou de espaço, ou de tempo, ou de personagens) que tenham unidade de significação. Finalmente, redige-se o resumo com as próprias palavras.


Pietroforte (2002)

  • A partir de uma fábula de La Fontaine, o autor discute as quatro dicotomias de Saussure e aponta dois impactos importantes do estruturalismo saussuriano: um deles, através do conceito de dupla articulação desenvolvido por Martinet; o outro, através do conceito de norma, desenvolvido por Coseriu.


A dupla articulação(Martelotta, 2008)

  • Os enunciados de uma língua podem ser desmembrados em partes menores, que podem ser encontradas em outros enunciados. O falante escolhe as unidades e combina-as de acordo com as regras de formação da sua língua.

Exemplo: Os violinistas tocavam músicas clássicas.
Os / violinistas / tocavam / músicas / clássicas.


Os / violinistas / músicas / clássicas.

Violin/ista clássic/a
Violin/o clássic/o

Os elementos de menor unidade significativa na estrutura lingüística são chamados de morfemas.
1ª articulação ou morfologia: constituída de elementos dotados de menor significado ou morfemas.

  • Os morfemas, por sua vez, podem ser divididos em unidades menores, os fonemas.
    músicas: /m/, /u/, /z/, /i/, /k/, /a/, /s/

2ª articulação ou fonologia: constituída de elementos não dotados de significado ou fonemas.

domingo, 21 de setembro de 2008

Conceito Sobre Língua


Encontramos um artigo muito interessante denominado:"Palavras em Movimento", que trata de uma maneira muito clara e objetiva sobre o funcionamento da língua.
Fonte:Revista Discutindo Língua Portuguesa
            Edição 02- Editora Escala.
            Sugerido Por: Kalina Lima

Ela é dinâmica, plástica, aberta,

em contínuo movimento, e não há
dicionário ou gramática que
consiga congelá-la


A
nalisar cientificamente uma língua não é nada fácil. Os lingüistas, que são os profissionais que se dedicam a essa tarefa, sabem disso muito bem, porque deparam o tempo todo com as inesgotáveis complexidades estruturais e funcionais da língua.


Para se ter uma idéia, basta lembrar que qualquer língua é uma realidade estrutural infinita. Entendamos bem isso: o número de sons da fala de que se serve uma língua é finito (em torno de três dezenas). O número de suas palavras (ainda que imenso) é finito (calcula-se que uma língua como o português tem algo em torno de meio milhão de palavras). O número de regras com as quais organizamos os enunciados é também finito (embora não tenhamos ainda idéia clara de sua quantidade). Apesar disso tudo, o número de enunciados possíveis numa língua qualquer é infinito.


Há um dizer clássico entre os lingüistas que resume bem essa propriedade das línguas humanas: a língua faz uso infinito de meios finitos. Até onde vai nosso conhecimento, nenhuma outra espécie animal dispõe de um sistema semiótico infinito como nós humanos.

 

Variações sobre o tema
Poderíamos supor que, sendo finitos os meios estruturais, bastaria que eles fossem descritos para alcançarmos uma apresentação científica completa de uma língua. No entanto, as coisas não são tão simples assim. Primeiro, porque a língua não se esgota em sua estrutura. Para analisá-la adequadamente, temos de considerar também seu funcionamento social.


Segundo, porque nenhuma língua é uma estrutura homogênea e uniforme. Qualquer língua se multiplica em inúmeras variedades a tal ponto que muitos chegam a dizer que atrás de um nome – português, por exemplo – se escondem, de fato, muitas “línguas”.


Trata-se aqui, por exemplo, de variedades geográficas (os chamados dialetos), sociais (os dialetos urbanos e rurais, os jargões profissionais, as gírias, os registros e gêneros próprios de cada atividade humana) e estilísticas (variedades próprias da fala, da escrita, estilos formais ou informais, familiares ou vulgares).

 

Acrescentemos a toda essa gama de variedades as peculiaridades de fala e escrita de cada um dos falantes (afinal, não há duas pessoas que falem ou escrevam exatamente do mesmo modo) e começaremos a ter uma idéia da imensidão da língua.

E essa complexidade toda se amplifica enormemente se considerarmos ainda alguns fenômenos corriqueiros do funcionamento social da língua. Lembremos, por exemplo, que, em situação de uso, um enunciado pode sempre significar seu contrário.Assim,

digo João é muito honesto, mas, pelo mecanismo da ironia, faço esse enunciado significar exatamente seu oposto, isto é, que João é desonesto.


Por outro lado, um enunciado pode ter um significado bem diferente daquele que está contido em sua estrutura. Assim, alguém diz
 Está frio aqui e seu interlocutor identifica nessa expressão um pedido ou uma ordem para que as janelas sejam fechadas (sem que as janelas sequer tenham sido mencionadas!).


São dois exemplos banais, mas ilustram bem o caráter fluido e movente da língua em uso. Talvez, como falantes, nem percebamos a freqüência com que jogamos com as estruturas da língua, fazendo-as significar para além delas mesmas.


A esses dois exemplos poderíamos ainda acrescentar o imenso continente que é o uso figurado da linguagem. Embora algumas pessoas pensem que a linguagem figurada só ocorre na poesia, nosso dizer cotidiano está repleto de comparações e gestos metafóricos e metonímicos.


Nenhum dicionário dá conta
Diante de todo esse quadro praticamente inesgotável de recursos, podemos afirmar que uma língua é um universo infinito e em contínuo movimento. Mesmo que conseguíssemos juntar num megadicionário todas as palavras da língua (com os diferentes sentidos de cada uma delas) e apresentar numa megagramática todos os princípios que regem a construção dos enunciados estruturalmente possíveis na língua (cobrindo toda a gama de suas variedades), ainda assim a língua como tal nos escaparia.

 

E isso porque ela não é uma realidade estática, que possa ser congelada num dicionário ou numa gramática. Ela não é um tesouro, uma mera coleção de sons, palavras e enunciados. A língua é, de fato, uma realidade dinâmica, plástica, aberta, em contínuo movimento, tal qual a experiência humana. E ela tem de ser assim, porque, de outro modo, não seria capaz de dar forma à multiplicidade de eventos de expressão e interação que ocorrem continuamente no interior da sociedade que a fala (ou, como no caso do português, das sociedades que a falam).


Assim, no mesmo momento em que estivéssemos terminando nosso megadicionário, novos sentidos estariam sendo agregados às velhas palavras e novas palavras estariam sendo criadas ou incorporadas de outras línguas. Mesmo que conhecêssemos integralmente os princípios das alterações semânticas das palavras ou da criação e incorporação de novas palavras, sua manifestação ou direção são, de fato, imprevisíveis.

Ainda que conhecêssemos todos os princípios de construção dos enunciados da língua em todas as suas variedades, não teríamos como prever as direções do uso figurado ou do jogo com as estruturas que as faz significar para além delas mesmas.

Além disso, não podemos perder de vista outro fato importante para apreendermos a complexidade da língua: ela passa continuamente por processos de mudança que vão alterando sua configuração estrutural. Sabemos ainda pouco de como se dão esses processos. Sabemos, no entanto, que eles atuam permanentemente e parecem emergir justamente do encontro das variedades.


As diferentes maneiras de pronunciar ou de estruturar os enunciados criam um caldo propício à mudança. Os lingüistas costumam dizer que a mudança emerge da heterogeneidade, isto é, fenômenos típicos de algumas variedades acabam por ser adotados progressivamente por falantes de outras variedades, resultando em alterações na pronúncia ou na estrutura dos enunciados destas últimas. E esse é um processo contínuo, impossível de ser estancado.


“Peixe ensaboado”
Apesar de tudo que apontamos aqui, há quem não perceba a enormidade e a dinâmica da língua e acredite que ela pode ser reduzida a meia dúzia de regrinhas.

 

Mesmo que nos restringíssemos à chamada “língua-padrão”, que alguns, infelizmente, tratam como uma camisa-de-força a ser amarrada nos falantes para limitar ou impedir suas ações de fala ou escrita, veríamos que também ela não escapa da variedade, da mudança, nem do movimento contínuo.


É uma ilusão achar que podemos abarcar a língua em sua totalidade. Ilusão maior, porém, é querer domar a língua, estancar sua dinâmica, fixá-la num monumento pétreo. Isso não significa que devamos desistir de estudá-la cientificamente. Quanto mais a compreendermos, mais compreenderemos a nós mesmos, seres de linguagem que somos. Temos, no entanto, de estar cientes de que a língua sempre nos escapa. E nos maravilharmos com isso.


Por outro lado, embora a chamada língua-padrão seja também um “peixe ensaboado”, isso não significa que não devemos nos ocupar dela. Não pode ser desmerecida sua importância sociocultural como uma tentativa de se construir um espaço de relativa unidade por sobre a imensa variedade da língua (em especial para eventos de escrita e para os meios de comunicação de massa).


Para que a língua-padrão cumpra de fato esse seu papel, nós precisamos superar criticamente a cultura do erro que tem sido tradicionalmente associada a ela entre nós, substituindo essa atitude negativa, inquisitorial, condenatória por uma atitude mais condizentes, seja com sua relevância sociocultural, seja com sua dinâmica.


Carlos Alberto Faraco, ex-reitor da Universidade Federal do Paraná, é lingüista, autor, entre outras obras, de Lingüística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas (Parábola Editorial).

 





sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Que relativos

Sugerido Por:Eliandro Miranda

Estou me repetindo muito ultimamente, mas espero que isso não seja dramático (os colunistas econômicos e os políticos, eu acho, se repetem ainda mais). É que, a cada dia, encontro mais exemplos interessantes que me obrigam a falar do mesmo problema e acho que é melhor não sonegar nada aos leitores.
No caso, volto às regências em orações relativas e, ao lado disso, porque não deixa apenas um caso especial do mesmo tema, volto ao "cujo", do qual falei duas vezes recentemente (aqui e aqui). Vou me esforçar para ser claro, talvez seja repetitivo. Assim, espero que o leitor, se discordar de mim, o faça por motivos justos, não por achar que digo o que não digo.
Em sua coluna dominical na Folha de S. Paulo do dia 31/08/2008, Juca Kfouri escreveu, não importa muito qual era o tema, que Luxemburgo maltrata a última flor do Lácio. E acrescentou, "mas, hoje em dia, neste Brasil, quem não a maltrata?".
Dessa passagem, destaco o verbo "maltratar" e a expressão "hoje em dia". Para que alguém diga que uma língua pode ser maltratada, é preciso ter dela uma determinada concepção. Tipicamente, supor que a língua teria estado em um estágio de perfeição (esse estágio é sempre antigo, anterior a qualquer que seja o tempo em que se fala) e que atualmente (ou hoje em dia) ela está sendo levada para o abismo pela falta de cuidado dos falantes. Isso faz supor que teria havido um tempo em que os falantes eram todos como Vieira, ou Ruy, ou Machado, ou (aqui você coloca o nome de seu clássico preferido). Ora, em todos os tempos as línguas foram faladas de formas variadas e sempre houve gente dizendo essa mesma coisa: que agora ela está perdida.
"Maltratar" lembra que várias metáforas relativas a esse fato parecem vir do campo da moral, mais exatamente da moral sexual. As línguas são freqüentemente comparadas a donzelas, que os maus falantes corrompem, conspurcam, agridem. Maltratam? Alguns falantes seriam sádicos, por que não? Não se escreve que eles f *** com as línguas, mas a idéia é essa. Ora, essa pureza nunca existiu, nem a das línguas nem, desconfio, a das donzelas (como bem se sabe, pelo menos desde Freud).
É relevante dizer que Juca Kfouri escreve "bem" - isto é, que é um sujeito culto, cujos textos estão claramente entre os que podem ser considerados bons segundo as regras na dita norma culta. Não comete deslizes, pelo menos não desses que "doem nos ouvidos" (na verdade, não agüento mais ouvir gente de péssimos ouvidos dizendo que certas construções doem nos seus ouvidos; se doerem, devem ser coisas boas...).
Corta.
O mesmo Juca, dias depois, no mesmo espaço do mesmo jornal, escrevendo sobre Fofão, deixou escapar que "mais do que admirar e respeitar, Fofão é daquelas pessoas que você passa a gostar". Os plantonistas e caçadores de erros, os que estão preocupados com a pureza da última flor do Lácio, diriam que não é assim que se diz, Juca. Não se diz "gosto da Fofão?". Não é verdade que quem gosta gosta de? Se você gosta de, Juca, então Fofão é uma daquelas pessoas DE QUE(M) você passa a gostar". Entendeu, Juca? Não esqueça o DE, Juca!!!
Pois eu diria que não, que não é assim, ou que não é necessariamente assim. E que, não sendo assim necessariamente, Juca não está maltratando a língua pátria, ou melhor, mátria, que esse negócio de conspurcar é mais com as mulheres, ou não?
Por que não?, perguntarão. Porque essa regrinha "se digo gosto de, então tenho que dizer de que gosto" é só mais ou menos correta. É que são muitos os casos nas línguas em que esse tipo de raciocínio não vale.
Por exemplo: posso dizer "tenho" (com (t) no começo), mas "tinha" (com (tch) no começo). É que, mudando o contexto (e/i), o (t) pode mudar de forma". Digo "Eu vejo", mas digo "me vejo", isto é, se "eu" muda de função, muda de forma. Então, por que não pode ocorrer "gosto de queijo", e "queijo é uma coisa que eu gosto" (em vez de "de que eu gosto")? O "objeto" foi substituído por um pronome (aceitemos isso, vá) e foi "deslocado" para antes do verbo, e nessa nova posição, ele aceita a queda do "de". Veja-se que é só nesses casos que essas preposições caem. Então, é uma queda regrada!
Esse um argumento é de tipo estrutural. Mas, nessas questões de mudança lingüística, o que vale mais são os argumentos históricos e sociais. No caso, o argumento forte é o seguinte: se alguém como Juca esquece o "de", então o "de" já não estava mais lá, não foi propriamente esquecido.
Fatos como este mostram que a variação não decorre apenas do grau de letramento do falante. Mesmo gente fina pode abandonar as regras ditas "corretas". E isso é sempre um fato muito sintomático: quando elas o abandonam, de fato não há mais erro. Porque a base desse erro não é lingüística, gramatical, é social! Sempre foi assim na história das línguas. Esse "erro" nem é mais percebido por gente culta como o Juca, que percebe outros, como alguns do Luxemburgo, porque esses são distribuídos por outros critérios sociais...

Sírio Possenti
De Campinas (SP)
Retirado do site: terramagazine.terra.com.br . Publicado em 18/09/2008.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sugerido Por: Eliandro Miranda

JOAQUIM MATTOSO CAMARA Jr.
Joaquim Mattoso Camara Jr. foi pioneiro da lingüística e do estruturalismo no país
Joaquim Mattoso Camara Jr. publicou o primeiro compêndio de lingüística da língua portuguesa nos anos 1940 e marcou o estabelecimento de uma bibliografia básica da disciplina no país. Numa época em que o português de Portugal orientava os estudos lingüísticos, ele sistematizou a língua falada no Brasil. Fundou o primeiro programa de pós-graduação em lingüística do país e criou o primeiro curso de línguas indígenas no Rio de Janeiro -- onde nascera a 13 de abril de 1904.
Mattoso Camara (1904-1970) em sala de aula (as imagens deste perfilforam reproduzidas da Revista de Cultura Vozes, no 5, ano 67 - 1973)Mattoso Camara teve importante papel também nos estudos de lingüística geral e da história dessa ciência. Instaurou no Brasil o estruturalismo, doutrina que marcou as ciências humanas a partir da década de 1960 e que se propunha a compreender uma totalidade (no caso, a língua) como estrutura definida pela relação funcional entre seus elementos constituintes.
Embora baseada nos preceitos do estruturalismo funcional, que busca os usos e aplicações da linguagem, a obra de Mattoso Camara apresenta traços da lingüística descritiva de base antropológica. Ele estudou as relações entre língua e cultura e entre a lingüística e a história. Percebeu que a língua não muda em bloco -- cada grupo de elementos se altera em um ritmo.
Lecionou em inúmeras instituições nacionais e estrangeiras, secundárias e superiores. Poderia dar aulas em Londres ou Lisboa com alta remuneração, mas preferiu o contato com sua gente. Professor assíduo e pontual, sempre procurava facilitar a apresentação de definições conceituais. Sua metodologia consistia em expor claramente os objetivos de cada aula e seu encadeamento posterior, de forma a motivar os ouvintes para a aula seguinte. Além de tudo, possuía um "suave sense of humor", como coloca Carlos Eduardo Falcão Uchôa na coletânea póstuma Dispersos.
Mattoso Camara na fundação da Academia Brasileira de Filologia(5o em pé da esq. p/ a dir.)
Mattoso Camara pertenceu a diversas associações científicas e participou ativamente de encontros e congressos. Fez parte do Programa Interamericano de Lingüística e Ensino de Línguas (Pilei) e da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina (Alfal). Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Filologia, da Associação Brasileira de Lingüística (Abralin) e da Academia Brasileira de Filologia. Foi um dos fundadores do Círculo Lingüístico de Nova York criado em 1943 como extensão da École Libre des Hautes Études, organizada por um grupo de belgas e franceses refugiados da Europa ocupada pelos nazistas.
O reconhecimento internacional de Mattoso Camara se torna evidente em sua participação no 1º Simpósio Luso-brasileiro sobre a língua portuguesa contemporânea, cujo discurso de encerramento proferiu. Foi o único latino-americano entre os doze membros do Comitê Internacional Permanente de Lingüistas (1967).
A notícia da morte do professor Mattoso Camara em 5 de fevereiro de 1970 foi um choque. Por sua inestimável contribuição à língua portuguesa, ele estava prestes a receber o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras.
Raquel Aguiar
Ciência Hoje/RJoutubro/2001
Retirado do Site: cienciahoje.uol.com.br
Caros colegas,

Apartir de hoje passamos a utilizar este espaço para informações, contribuições e todas as possibilidades que este Blog possa nos oferecer para enriquecer nosso conhecimento a respeito de Linguística.
 Participem, enviando para o e-mail do Blog suas sugestões ou pesquisas e artigos interessantes que encontrarem relacionados á Linguística. O Blog é de todos nós!!!!